Projeto Hortas Pedagógicas mobiliza comunidade escolar em Sergipe

Sergipe

13.04.2023

Imagine um laboratório vivo onde é possível explorar e experimentar diversas práticas e temáticas de forma interdisciplinar, transversal e inclusiva. Essa é a proposta do projeto Hortas Pedagógicas que vem sendo implementado pela Escola Estadual Jornalista Paulo Costa, no bairro Bugio, em Aracaju. O projeto conta com recursos do Programa de Transferência de Recursos Financeiros Diretamente às Escolas Públicas Estaduais (Profin), na ordem de R$ 5 mil, e está sendo executado em parceria com o Núcleo de Estudos em Agroecologia (NEA), do Instituto Federal de Sergipe (IFS).

De acordo com a diretora da Escola Estadual Jornalista Paulo Costa, Deise Nascimento, o objetivo do projeto é construir no ambiente escolar um espaço que proporcione aos alunos, professores, servidores e a comunidade do entorno a possibilidade de estudar e aprender através do plantio e do cuidado com o solo e as plantas. “A nossa escola é acolhedora! Por isso, queríamos desenvolver um projeto que pudesse contribuir com a formação pedagógica de alunos e professores; além disso, queríamos que trouxesse uma mudança de paradigma em relação aos hábitos alimentares da comunidade escolar e também incluísse todos aqueles que têm interesse em trabalhar com a terra e com a produção de alimentos saudáveis”, comenta a gestora.

O estudante do curso Tecnologia em Agroecologia do Instituto Federal de Sergipe (IFS), e ex-aluno da E.E.J. Paulo Costa, Luiz Fernando Santos de Jesus, explica que o  projeto prevê várias etapas de execução: oficina de capacitação em agroecologia e segurança alimentar; oficina de capacitação em compostagem e adubação orgânica; mutirão para construção das leiras (canteiros destinados ao plantio) e preparo do solo; construção do berçário (estufa para a semeadura e criação de mudas); plantio das mudas nas leiras; manejo e irrigação da horta; até, finalmente, chegar o momento da colheita e do preparo dos alimentos.

“A primeira oficina sobre agroecologia ocorreu em dezembro de 2022. Já a oficina de compostagem ocorreu no final de março e contou com a presença do secretário Zezinho Sobral que botou a mão na massa e ajudou a preparar o nosso adubo orgânico. No final de abril, faremos um mutirão para preparar o solo, organizar as leiras e construir o berçário de mudas. E, se tudo der certo, 45 dias depois do plantio já estaremos colhendo verduras e condimentos, frutos deste trabalho coletivo”, elucida o tecnólogo ao complementar: “para mim, estudante do ensino público desde sempre, é uma honra poder retornar à minha primeira escola e contribuir com a formação dos jovens da minha comunidade”, enfatiza Luiz Fernando.   

Ética ambiental e interdisciplinaridade

Participante engajada ao projeto, a professora da disciplina de  Filosofia, Estefanni Patricia Santos, afirma que a Horta Pedagógica traz um novo olhar sobre a relação da educação com o meio ambiente, tendo como princípio norteador a mudança de comportamento e a importância do verde em nossas vidas. “Eu converso com os alunos sobre as bases filosóficas que, desde os primórdios na Grécia Antiga e, sobretudo, com o Jardim de Epicuro, tratam da importância do cultivo de alimentos em seu próprio lar como forma de buscar a felicidade. Mas, eu também trabalho com eles os aspectos contemporâneos dessa relação homem/natureza, a exemplo da legislação vigente, de crimes ambientais e da retomada de práticas alimentares ancestrais”, comenta a professora.  

Para a merendeira Claudenice Batista, o projeto traz uma visão holística do alimento, pois faz com que a comunidade escolar compreenda o processo de produção e consumo dos alimentos como um todo. “Antes, nós já fazíamos a coleta seletiva do lixo na escola, mas os resíduos orgânicos eram descartados como lixo. Agora, aprendemos que eles podem virar adubo para a horta que nos dará alimentos saudáveis. Não vejo a hora de servir para as crianças uma salada cultivada pelas nossas próprias mãos”, diz a merendeira entusiasmada.  

Tecnologia e inclusão

Um dos diferenciais do projeto de Hortas Pedagógicas é a possibilidade de trabalhar num mesmo espaço tanto o uso de tecnologias, quanto o estímulo à inclusão de pessoas com deficiência. Em relação ao uso de tecnologias, o aluno do 3º ano do Ensino Médio, Matheus dos Santos Lima, comenta que ele e outros integrantes do Espaço Maker, no laboratório de Robótica da E.E.J. Paulo Costa, já desenvolveram o protótipo de um aplicativo que vai controlar a distância, sobretudo nos finais de semana, todo o processo de irrigação da horta.

Já a professora da Sala de Recursos, Gilda Correia, sublinha que cerca de 20 alunos que estão sob os seus cuidados na escola e apresentam algum tipo de deficiência intelectual -  Transtorno do Espectro Autista (TEA), Transtorno do Déficit de Atenção com Hiperatividade (TDAH) e Paralisia Cerebral -,  a horta pedagógica serve como um   espaço terapêutico, cujo intuito é promover o bem-estar dos alunos e estimular a participação ativa deles afim de auxilia-los na recuperação das suas capacidades funcionais e sociais.

O representante da comunidade no Conselho Escolar, Antônio Fernando, é outro participante assíduo do projeto. Na sua avaliação, o projeto de hortas deveria integrar asatividades extracurriculares de todas as escolas. “Eu penso que essa iniciativa fortalecer o processo pedagógico entre professores e alunos, ao mesmo tempo que integra a família no ambiente escolar. Muitos pais, inclusive, já se colocaram à disposição da escola para ajudar nos mutirões de limpeza do solo e construção dos canteiros, além da manutenção da horta”, finaliza o conselheiro escolar.

Profin Projetos Ensino Médio

Os recursos disponíveis para a realização do projeto Hortas Pedagógicas foram adquiridos por meio do Programa de Transferência de Recursos Financeiros Diretamente às Escolas Públicas Estaduais (Profin), conforme determina a LEI Nº. 8.494-A/2018.  O objetivo do Programa é prestar assistência financeira suplementar às escolas públicas da educação básica da rede estadual em Sergipe, a fim de promover melhorias em sua infraestrutura física e pedagógica, com vistas a garantir o acesso, a permanência e a aprendizagem de todos os estudantes, por meio do compromisso com o desenvolvimento de uma escola voltada para a formação cidadã, a efetividade, a democratização de políticas públicas inclusivas de educação, esporte, lazer, juventude e cultura, assim como fortalecer a participação da comunidade e a autogestão escolar.