Aluno com autismo recebe certificado de honra ao mérito em escola estadual

Rio Grande do Norte

12.03.2020

“A escola acredita, estimula, diz o quanto os seus alunos são capazes de sonhar, de chegar aonde os seus desejos e objetivos foram traçados, mostrando os seus potenciais por meio de um trabalho motivacional, individual e bem diferenciado.” A frase, dita pela advogada Rosany Mary Gouveia Monte, expressa o sentimento de gratidão de uma mãe, cujo filho possui a condição de Transtorno do Espectro Autista (TEA), sente em relação à educação. 

Roseany é mãe de Rafael Gouveia Monte Souza, 20 anos, egresso da Escola Estadual Lourdes Guilherme (EELG), localizada no bairro de Neópolis, em Natal. Em dezembro de 2019 o jovem, então concluinte, recebeu o Certificado de Honra ao Mérito, título entregue pela unidade de ensino ao aluno destaque em reconhecimento ao desempenho alcançado nas atividades escolares.

Ao falar sobre o sentimento em receber tal reconhecimento Rafael se mostra agradecido, porém, afirma que todos os alunos, independentemente de suas condições, já merecem receber tal honra somente por terem conseguido concluir mais uma etapa em seu processo educacional.

“Não tive reação na hora, apenas fui receber. Depois, quando recebi, foi que pensei bem sobre o momento, e acho que nem deveria ter tal colocação pois todos que se esforçaram o suficiente para passar já deveriam ter no mínimo mérito semelhante”, declara Rafael. 

Experiência escolar

Contudo, a condição de Rafael e seu bom desempenho em atividades cognitivas, inclusive no entendimento de línguas – o jovem é bilíngue -, nem sempre foi fácil. Diagnosticado com TEA apenas aos 17 anos, o jovem se deparou com diversas situações difíceis ao longo de sua vida estudantil, sobretudo em instituições privadas de ensino, que não compreendiam ou não estavam preparadas para sua condição específica.

“Fomos para São Paulo e lá ficamos durante quase seis meses e só voltamos com diagnóstico fechado. Antes disso, Rafael sofreu bullying velado nas escolas particulares, provocando danos físicos e emocionais, sendo pouco compreendido pela escola. E eu, como mãe, fui diversas vezes convocada ir ao colégio dar explicação, pelos comportamentos diferentes”, relembra Roseany.

Com diagnóstico correto e o sentimento de frustação em relação as experiências vividas nas instituições particulares, mãe e filho procuraram apoio e orientação na rede estadual de ensino do Rio Grande do Norte, em específico na Escola Estadual Lourdes Guilherme.

“Foi a primeira escola em que fui tratado tão bem por todos ao redor, e que acabei praticamente esquecendo quaisquer maus tratos gerais que recebi em outras escolas no passado. Tanto colegas quanto professores me ajudavam, e eu os ajudava de volta”, relembra Rafael.

Roseany, por sua vez, também destaca sua gratidão à escola, sobretudo a equipe pedagógica envolvida e a gestora da unidade, Isabel Cristina de Lima. “Foi através destas pessoas e desta escola em especial, que fomos brindados com uma gestão dedicada e solidária às dificuldades dos seus alunos. Ao matricular o Rafael, logo fui solicitando o professor de educação especial para acompanha-lo durante o ano letivo de 2019. E assim aconteceu:  vieram dois professores concursados, qualificados e principalmente especializados em autismo, que foram a professora Christiany Colin e o professor Antônio Edson Rodrigues”, conta Roseany.

Formado no ensino médio, Rafael agora buscará dar mais um passo em sua formação e cursar uma graduação em Artes Cênicas, pois, desde criança, tem a vontade de ser dublador. “Artes Cênicas é o principal requisito para eu ser um profissional na área de dublagem, já que é o meu sonho desde criança”, finaliza.

Dados

O estado do Rio Grande do Norte dispõe, desde abril de 2016, do cargo pioneiro de professor de educação especial, possuindo atualmente 495 professores para essa modalidade.

De acordo com dados da Secretaria de Estado da Educação, da Cultura, do Esporte e do Lazer (SEEC), além dos professores de Educação Especial (EE), o RN dispõe de 369 salas de recursos multifuncionais instaladas nas escolas estaduais, 275 professores no Atendimento Educacional Especializado (AEE), 104 cuidadores, 121 profissionais intérpretes/instrutores de Libras e 24 professores de Libras.

Esses números contemplam escolas que oferecem as modalidades de ensino Fundamental e Médio em diversos municípios do estado potiguar. Na EEGL atualmente atuam quatro professores de EE, que atende 13 alunos com Necessidades Educacionais Especiais (NEE), que são demandas específicas no processo de aprendizagem como, por exemplo, autismo, deficiência auditiva, deficiência visual, problemas intelectuais, entre outros.