CATRAPOVOS : Estudantes indígenas terão alimentação escolar regionalizada, com aquisição de produtos direto da agricultura familiar indígena

Roraima

27.08.2021

Por Mágida Azulay Khatab

Foto: Ascom/Seed

Estudantes indígenas terão alimentação escolar regionalizada, com aquisição de produtos direto da agricultura familiar indígena. A ação será implementada em Roraima por meio do Projeto Catrapovos (Comissão de Alimentos Tradicionais dos Povos), uma iniciativa do MPF (Ministério Público Federal) e abraçada pelo Governo de Roraima e Secretaria de Educação e Desporto.

O projeto garante que estudantes indígenas tenham uma alimentação escolar saudável, baseada em alimentos tradicionais que já estão acostumados a comer, conforme a produção da comunidade em que estão inseridos, além de gerar renda para os pequenos agricultores e fomentar a economia local.

Isso será possível com a aquisição dos produtos direto dos agricultores familiares indígenas, por meio de uma Chamada Pública. Nos dias 23 e 24 de agosto, uma comitiva da Secretaria esteve no município de Uiramutã ao Norte do Estado, distante 320 km da capital Boa Vista, para conhecer a produção local e apresentar o projeto aos pequenos produtores indígenas.

Em 2019, a Seed já teve uma primeira experiência em Uiramutã, quando adquiriu para a merenda dos estudantes da região, gêneros alimentícios da Associação Mayú que possui 54 produtores associados.

“O FNDE vem aprimorando a legislação para o atendimento desse público específico. Recentemente o Amazonas fez essa experiência. Nós tivemos contato com toda a documentação e como já tínhamos interesse nessa pauta, acolhemos essa demanda”, explicou Leila Perussolo, secretária de Educação e Desporto.

A secretária explicou que a Seed realizará oficinas com as comunidades indígenas para que os produtores compreendam sobre a Chamada Pública, regramento jurídico, plano de negócios, per capita de alimentação, entre outros temas, para dar sequência e efetivar a ação.

Os produtores locais ficaram animados com a ideia. Em Uiramutã é possível encontrar plantios de milho, macaxeira, abóbora, batata, cará, além de frutas como abacate, limão, banana, mamão e melancia, além de hortaliças como alface, cebolinha. Na região também há a criação de gado com a qual é possível ainda se ter leite, queijos, coalhadas e carne.

“Se esse projeto acontecer mesmo, será muito bom. São alimentos que nossos filhos conhecem. Já vi estudantes descartando iogurte porque não é daqui, vem da cidade. Não é alimento nosso. E a comida natural daqui eles não vão rejeitar, pois estão acostumados. Vai ser muito importante para as crianças e também para nós, agricultores”, disse Lidiane Pereira, agricultora da região.

Representantes do MPF e FNDE participaram da visita em Uiramutã

Alisson Marugal, procurador do Ministério Público Federal em Roraima, e Sineide Neres, nutricionista do FNDE e assessora da coordenação geral do PNAE, acompanharam a comitiva da Seed durante visita ao Uiramutã. O prefeito do município, Tuxaua Benísio também prestigiou a ação.

Eles puderam acompanhar de perto a produção local e conversar com os agricultores da Associação Mayú, na sede do município. As visitas ocorreram também nas comunidades indígenas Willemon, Uiramutã e Maturuka, na Região Raposa Serra do Sol.

“O projeto Catrapovos busca o autoconsumo, onde a comunidade produz a sua própria merenda escolar, o que garante dois resultados: a alimentação culturalmente adequada e saudável e a geração de renda que vai ajudar no desenvolvimento social e econômico da comunidade”, destacou Alisson Marugal.

Para a representante do FNDE, o Estado tem um grande potencial com o Catrapovos pela rica produção e pela iniciativa da Secretaria para implementar a ação. Depois do Amazonas, Roraima é o segundo Estado a colocar o projeto em prática.

“A Seed em plena pandemia teve coragem de fazer visitas e conhecer a realidade da produção das comunidades. Observamos que Roraima tem grande potencial de produção e tem tudo para ser mais um case de sucesso abraçando essa causa da alimentação escolar diferenciada, regionalizada e mantendo a cultura das populações indígenas”, finalizou Sineide.