Estudantes da rede estadual apresentam projetos inovadores no Ceará Científico

Ceará

09.12.2022

O desenvolvimento da pesquisa e do saber científico está presente nas escolas da educação básica cearense. Alunos tanto do Ensino Médio quanto do Fundamental demonstram, cada vez mais, interesse e engajamento em fazer experimentações com o objetivo de demonstrar, por argumentação, soluções para demandas da sociedade. E o ponto alto desse processo pode ser visto no evento Ceará Científico, promovido pela Secretaria da Educação (Seduc), que traz ao público os mais relevantes trabalhos elaborados por estudantes, em diversas áreas do conhecimento.

As exposições dos projetos ocorreram nesta quinta-feira (8), no Shopping RioMar Fortaleza. A mostra teve início na fase escolar, em que cada unidade de ensino realizou sua própria feira de ciências. Na sequência, os classificados foram para a fase regional, que aconteceu nas 20 Coordenadorias Regionais de Desenvolvimento da Educação (Credes) e na Superintendência das Escolas Estaduais de Fortaleza (Sefor). Por último, é feita a etapa estadual, na capital, reunindo os vencedores do estágio anterior.

Alternativa ecológica

Preocupados com os impactos ambientais gerados pela utilização de combustíveis fósseis nos automóveis, os estudantes João Gabriel Gonçalves e Maria Eduarda Ferreira, ambos de 16 anos, resolveram investir em um mecanismo que aproveitasse a luz solar para gerar energia de deslocamento aos veículos. Apostaram, então, no “carro movido a energia renovável”. A ideia foi desenvolvida na Escola de Ensino Fundamental e Médio (EEFM) José Bezerra de Menezes, em Juazeiro do Norte.

“O objetivo do projeto é conscientizar sobre a realidade que a gente vive, apresentando alternativas tecnológicas que temos à disposição para gerar uma condição de vida melhor para o planeta”, diz Maria Eduarda, que cursa a 2ª série do Ensino Médio. “A gente vê que os carros movidos a combustão estão impregnados no nosso dia a dia, mas temos outras opções que, embora sejam pouco acessíveis no momento, a longo prazo serão positivas por questões sociais e ambientais”, aponta.

Utilizando uma pequena placa fotovoltaica, um carro de brinquedo, motores elétricos, uma bateria, um controle remoto e algumas engrenagens, o projeto demonstra que, após algumas horas de exposição ao sol, o veículo consegue ter autonomia para fazer deslocamentos.

“Para montar o carro, aprendi sobre engenharia, cálculo de engrenagens, cálculo de corrente elétrica, programação, projetos em 3D, mecânica e eletrônica. Também aprendemos muito de inglês, pois a maioria dos artigos que a gente lia era de universidades do exterior, como Oxford e Harvard. Foi uma experiência interdisciplinar, que nos gerou muito entusiasmo”, revela João Gabriel. “Queremos, agora, desenvolver o nosso protótipo, um carro em proporção um pouco maior, aprimorando o projeto para provar a teoria”, complementa o jovem.

Encanto pelos números

O gosto pela matemática fez com que os estudantes Felipe Roque e Ana Clara Gomes, de 17 anos, aproveitassem a ocasião do Ceará Científico para desenvolver um projeto a respeito do tema da proporção áurea. Ambos são alunos da 2ª série na Escola de Ensino Fundamental e Médio (EEFM) Ministro Antônio Coelho, em São Benedito. O assunto, tido como complexo até por educadores, despertou o fascínio dos jovens a partir de uma aula sobre números irracionais vista na escola.

Ana Clara lembra que é possível aplicar a proporção áurea em diversas situações do dia a dia, como em expressões artísticas, na arquitetura, no design e no próprio corpo humano. “Obras como a Monalisa, de Leonardo da Vinci; o Nascimento de Vênus, de Botticelli; e a Última Ceia, de Salvador Dali, são baseadas na proporção áurea. No design, temos a aplicação desta relação numérica nos cartazes de cinema. Na arquitetura, temos o exemplo do Taj Mahal, que foi todo projetado a partir da proporção áurea. Trata-se de algo que chama a atenção por ter uma perfeição harmônica: nós olhamos e achamos naturalmente bonito”, ressalta Ana Clara.

“O Ceará Científico abriu uma nova porta para nós”, conta Felipe. “Devido ao evento, passamos a nos aprofundar na matemática e a buscar um aprendizado que talvez não teríamos se não fosse essa oportunidade. Quando escutamos falar sobre o número de ouro em uma aula da escola, começamos a fazer pesquisas em artigos científicos e vídeos, além das explicações da nossa professora. É um tema bem complexo, que costuma ser ministrado em mestrados e doutorados, e muitos professores se admiram de nos ver apresentando sobre isso”, explica.

Inovação e companheirismo

Com o desejo de colaborar com as iniciativas desenvolvidas pela escola no sentido de recompor as aprendizagens, afetadas pela pandemia, um grupo de estudantes da Escola Estadual de Educação Profissional (EEEP) Lúcia Baltazar Costa, em Limoeiro do Norte, criou o projeto Help, que se utiliza das Tecnologias Digitais da Informação e Comunicação (TDIC) para auxiliar os colegas.

“Viemos de 2 anos de pandemia, e quando voltamos às aulas presenciais, os professores perceberam que havia alunos com dificuldades em conteúdos básicos de português e matemática”, observa Lana Nogueira, de 15 anos.

A jovem lembra que uma das estratégias adotadas para contribuir com a aquisição de conhecimentos da turma foi a produção de vídeos explicativos, pelos próprios alunos. “Sentíamos a necessidade dos nossos colegas. Com o tempo, ampliamos o projeto para outras áreas do conhecimento. Surgiram mais voluntários, e hoje contamos com oito colaboradores, além do orientador. Temos por objetivo ressignificar o uso das TDICs para auxiliar os discentes com dificuldade de aprendizagem, por meio de uma rede de apoio virtual, com videoaulas, mapas mentais, reforço direto em alguma matéria específica, entre outras atividades”, enumera.

Jamile Oliveira, de 16 anos, explica que embora esteja na condição de colaboradora, também já se beneficiou diretamente com a ação. “Quando a gente ensina, também aprende. Utilizar as redes sociais é uma grande chance de ampliar os nossos conhecimentos. Um dos vídeos que apresentei foi sobre citologia, um assunto da biologia que eu tinha bastante dificuldade. Precisei estudar muito para poder fazer a exibição e, com isso, aprimorei o meu aprendizado, passando a gostar do tema”, esclarece.

“Na nossa pesquisa, analisamos tanto aspectos quantitativos como qualitativos. No primeiro caso, são exemplos disso o acompanhamento dos boletins dos alunos, que tiveram sucessivas melhoras ao longo do ano. No segundo caso, citamos o real envolvimento da comunidade escolar na iniciativa”, conclui Jamile.

Abrangência

Ao todo, nove categorias estiveram em exposição, envolvendo diretamente 460 alunos e 207 professores orientadores. São elas: Ciências e Engenharias; Ciências Humanas e Sociais Aplicadas; Educação Ambiental; Educação de Jovens e Adultos (EJA) Médio; Expressões Artístico-Culturais na Pesquisa em Educação Ambiental ou nas demais áreas do conhecimento; Linguagens e suas Tecnologias; Matemática e suas Tecnologias; Pesquisa Júnior – Ensino Fundamental II; Robótica, Automação e aplicação das TIC.

Na sexta-feira (9), às 15h30, será feita a cerimônia de encerramento e premiação dos vencedores. Na mesma ocasião, haverá a entrega do Selo Escola Sustentável 2022 às unidades de ensino selecionadas para receber a comenda.

O Ceará Científico incentiva, desde 2016, a construção de projetos que promovam a integração dos componentes curriculares, enaltecendo a interdisciplinaridade. Além disso, a ação visa estimular parcerias entre instituições acadêmicas ou educacionais com as escolas e, ainda, promover o intercâmbio artístico, científico e cultural no âmbito escolar, comunitário e social.