Educação de Ceará fortalece iniciativas de afirmação feminina

Ceará

08.03.2023

A rede pública estadual de ensino cearense é espaço ativo para o fomento de ações que fortaleçam o papel protagonista da mulher, tanto na construção do conhecimento, como na atuação cidadã pela busca de reconhecimento social. Não à toa, de forma cada vez mais frequente, despontam casos de professoras, alunas, gestoras e colaboradoras da área que se destacam pela concepção de trabalhos inovadores, trazendo ganhos para toda uma geração e contribuindo para a constituição de um mundo mais justo, equânime e com mais oportunidades. 

A Secretaria da Educação (Seduc) colabora para a criação de uma nova cultura, que acredita no potencial feminino para a ocupação de postos de decisão e busca superar visões arcaicas, que considerem a mulher como agente secundário na estruturação da sociedade.

Luana Vanessa Martins é professora de Biologia na Escola de Ensino Médio em Tempo Integral (EEMTI) Maria Menezes de Serpa, em Fortaleza. Na mesma unidade, também leciona as eletivas de Educação Sexual e Saúdes da Mulher. Este último componente curricular, a propósito, foi planejado pela educadora, que entende ser a sala de aula o local mais propício para a aprendizagem acerca do próprio corpo e dos aspectos socioculturais que o envolvem.

Participação

“Inicialmente, pensei que apenas mulheres se interessariam pela eletiva, apesar de não ser restrita a esse público. Mas, os meninos também optaram por fazê-la com o intuito de entender melhor sobre o universo feminino. Os encontros iniciam com o estudo do corpo, sua anatomia e fisiologia e depois vão perpassando por questões de gênero, feminismo, violências, gravidez e planejamento familiar, além do empoderamento individual na busca da sororidade e formação completa da estudante”, explica.

A base dessa educação, diz a professora, é a mulher desenvolver uma boa relação consigo mesma, acolhendo-se e buscando o autoconhecimento. Luana acrescenta que ver mulheres exercendo funções de poder, além de ser vista e identificada por suas próprias virtudes, é a chave do pertencimento. 

“Principalmente quando falamos da mulher preta, da mulher trans, da luta por um feminismo que enxergue e busque direitos iguais para todas. Conhecer nossas lutas e nossas vitórias é fundamental para romper com o patriarcado e suas mazelas. Outra questão importante discutida é a ocupação de lugares de direito e a luta por igualdade e equidade, sempre buscando mulheres como referência: cientistas, escritoras, políticas”, aponta.

Mudança de mentalidade

Envolver os homens neste processo educativo é um passo fundamental para que haja mudança na perspectiva coletiva em relação ao papel da mulher. Neste sentido, Luana Vanessa dedica ações específicas ao público masculino da escola. A temática é trabalhada com os alunos durante todas as atividades propostas, mas, em especial, durante a campanha Agosto Lilás, dedicada ao combate à violência contra a mulher.

“Devemos combater a violência na sua origem, e não só acolher a vítima. Temos um dia letivo exclusivo para os meninos, com os quais trabalhamos temas ligados às masculinidades e as suas implicações. Atividades domésticas, paternidade, machismo, misoginia, transfobia, afetos, como lidar com as emoções, tabus e preconceitos são algumas das questões trabalhadas ao longo do dia, por meio de dinâmicas, documentários, palestras e oficinas. É gratificante ver a abertura dos meninos para desenvolver essas habilidades. Não só se fazem presentes, como participam ativamente de cada processo, mostrando que, ao longo do ano, o trabalho de formiguinha tem resultado”, pontua.

Por fim, Luana Vanessa defende a importância de tratar sobre Educação para as Sexualidades nas escolas. “É a partir dessa temática que as pessoas conseguem viver as sexualidades de forma segura e responsável, evitando não só infecções sexualmente transmissíveis (ISTs) e gravidez indesejada, mas também combatendo preconceitos e tabus, por meio dessas discussões, o que contribui para a formação integral e crítica dos nossos jovens”, pondera.

Trabalho constante

Na Escola de Ensino Fundamental e Médio (EEFM) Dona Clotilde Saraiva Coelho, em Juazeiro do Norte, há um conjunto de ações sendo realizadas com o objetivo de reforçar a cultura do respeito e da garantia dos direitos das mulheres. A  professora coordenadora da área de Linguagens, Adailza Oliveira, ressalta que a programação iniciou no último dia 28 de fevereiro e segue até este dia 8. 

Entre as atividades, podem-se destacar palestras, que contaram com a participação de representantes de diversas instituições parceiras. Além disso, as turmas tiveram a oportunidade de estudar sobre personagens femininas proeminentes nos campos da literatura, do esporte, da música, entre outros, como forma de incentivar as alunas a terem como exemplo mulheres de valor. 

Exemplos

“Buscamos e conseguimos parcerias com Sesc, Senac, Frente de Mulheres do Cariri, Casa da Mulher Cearense e Delegacia da Mulher, para trabalhar temas como relacionamentos abusivos, violência contra a mulher, gravidez na adolescência, empreendedorismo e empoderamento. No dia 8, cada sala vai apresentar a biografia de uma personalidade pré-definida e trabalhada em sala ao longo das duas últimas semanas, como por exemplo, Carolina Maria de Jesus, Malala, Jarid Arraes, Raissa Leal e Frida Kahlo. Além disso, fizemos uma exposição artística de desenhos produzidos pelos alunos”, enumera.

Durante as palestras, Adailza explica, foram apresentados os canais de atendimento à mulher e as formas de procurar ajuda.

Engajamento de todos

“Tanto meninas como meninos participaram das atividades, sendo as falas direcionadas à postura que cada gênero deve ter diante do papel da mulher na sociedade e dos problemas que são enfrentados diariamente. O nome decidido para o nosso evento foi: IV Mostra de Linguagens EEM Clotilde Saraiva Coelho: linguagem feminina - força e delicadeza em todos os saberes. Inclusive, fizemos um concurso entre os alunos para definirmos a logomarca do nosso evento”, informa.

Um dos objetivos da ação, de acordo com Adailza, além de promover a conscientização, é fazer com que as alunas encontrem na escola um ponto de apoio para buscar auxílio.

“Diante das palestras, a gente percebia as perguntas que as meninas faziam: ‘e se acontecer isso, é relacionamento abusivo?’ ‘Digamos que a vizinha esteja sofrendo, como eu faço pra ajudar?’ E muitos meninos também perguntavam: ‘olhar o celular da namorada sem autorização dela é uma prática abusiva?’ Então, eles também se preocupam em entender quais são os limites de uma interação saudável. A violência ocorre muitas vezes em silêncio, e a escola como um todo se envolve nesta causa. Iremos encerrar a Semana da Mulher, mas o tema continuará sendo trabalhado”, afirma.