Inclusão da rede estadual de Pernambuco permite progresso de estudantes com Síndrome de Down

Pernambuco

25.03.2024

Mais de 15 anos. Esse foi o tempo que Jorge Gomes, estudante com síndrome de Down, ficou longe da educação escolar até ser acolhido pela Escola de Referência em Ensino Fundamental e Ensino Médio (EREFEM) Joaquim Xavier de Brito, na Zona Oeste do Recife. Foi na unidade de ensino que ele passou a vivenciar a inclusão, princípio da Rede Estadual de Pernambuco, e a evoluir social e intelectualmente. 

A história de Jorge e de outros jovens como ele ganharam destaque em 21 de março, Dia Internacional da Síndrome de Down, criado com o intuito de promover discussões sobre a garantia de igualdade e oportunidades para pessoas com a síndrome. Reconhecida pela ONU em 2012, a data passou a ser celebrada oficialmente pelo Brasil em 2023, mesmo ano em que a realidade do estudante, atualmente com 22 anos, se expandiu com o ingresso na escola.  

“A evolução dele foi significativa. Jorge ficava em casa e não ia para a escola. Então, a socialização não existia,  a escolarização não existia. Agora ele já está socializado com todos os alunos e já está começando a escrever”, conta Mauria Figueiredo, professora do Atendimento Educacional Especializado (AEE) da unidade de ensino.

Jorge tem aulas de segunda à sexta junto com sua turma do segundo ano e é atendido pelo AEE no contraturno pelo menos uma vez por semana. Nesse horário, na sala de recursos multifuncionais, realiza atividades adaptadas com o conteúdo que acompanha em sala de aula. “Aqui damos o atendimento complementar às disciplinas. Além disso, também fazemos a adequação do material. A gente não modifica o currículo. O professor nos passa o conteúdo e, havendo algum exercício ou prova, a gente faz adequação para o aluno, que é personalizada, pois cada um tem sua particularidade”, explica Mauria. 

Essa realidade é bastante diferente da que o estudante viveu na maior parte da sua vida. Vindo de uma família de 14 irmãos, Jorge frequentou a escola até os quatro anos, quando a sua mãe decidiu tirá-lo por conta do seu comportamento agressivo. "Depois disso ele foi morar em Limoeiro e não foi mais à escola. Ele só retornou depois que veio morar comigo aqui no Recife", conta Poliana Barbosa, irmã de Jorge e sua tutora desde que a mãe deles morreu, em 2022.

Ela conta que, quando matriculou o irmão, ele não conseguia passar o turno todo na escola. "O horário é das 14h até as 20h20. Mas aí ele chorava muito porque não tinha aquela adaptação, né? Então umas 17h30 eu ia buscar ele pra ver se ele conseguia se acostumar", revela a estratégia. Jorge não estava habituado às grandes aglomerações, nem com a agitação de uma escola. Muitas vezes ficava escondido no banheiro. 

Para Poliana, foi com o atendimento no AEE que o irmão começou a se adaptar ao ambiente escolar. "Foi uma peça fundamental. Mauria começou a colocar coisas que ele gosta de fazer, como interagir com jogos no computador, e ele começou a se adaptar e já consegue ficar no horário normal", conta a irmã. Atualmente, Jorge é figura popular e bastante querida na escola. “Às vezes, quando eu chego na escola para buscá-lo, ele está jogando bola com os meninos, que era uma coisa que ele não fazia. No começo ele era muito agressivo, mas nessa semana eu vi ele abraçando um colega”, celebra. 

Todo o progresso que Jorge vem vivenciado abriu portas para novos sonhos. O estudante, que gosta bastante de cantar e faz parte do coral da igreja que frequenta, já pensa no que fazer quando sair da escola. “Quero estudar música, noivar, casar, ter filhos”, planeja Jorge, que é um exemplo das políticas de inclusão aplicadas diariamente nas 1061 escolas da Rede Estadual.