Jovens cineastas da rede pública exibem curtas e são premiados no FestAruanda 2025

Paraíba

10.12.2025

A Educação paraibana voltou a ocupar as telas do cinema nesta quarta-feira (10), durante a Sessão Especial Escola Pública do 20º FestAruanda 2025, que reuniu produções audiovisuais realizadas por estudantes da rede estadual e municipal de ensino. O momento marcou mais um capítulo do fortalecimento das linguagens criativas na escola e premiou o curta “Dos Primeiros aos Últimos”, da Escola Técnica Estadual (ETE) de Arte, Tecnologia e Economia Criativa Poeta Juca Pontes, como um dos vencedores da categoria destinada às instituições públicas. A iniciativa, que nasceu do pioneirismo do Clube de Cinema Ferris, da cidade de Santa Rita, evidencia como o audiovisual vem se consolidando como ferramenta pedagógica, expressão artística e porta de entrada para novas gerações no universo do cinema paraibano.

Realizada no Cinépolis do Manaíra Shopping, a Sessão Especial Escola Pública apresentou 12 curtas-metragens produzidos por estudantes que transformaram temas do cotidiano em narrativas sensíveis, críticas e criativas. Neste ano, participaram a Escola Estadual Prefeito Antônio Teixeira, a Escola Estadual de Arte, Tecnologia e Economia Criativa Poeta Juca Pontes, a Escola Estadual de Ensino Médio Dr. Otávio Novais, a Escola Normal Estadual Anísio Pereira Borges e o próprio Clube de Cinema Ferris, além das escolas municipais Presidente João Pessoa e Índio Piragibe, que também contribuíram para a diversidade da mostra. As obras abordaram assuntos como racismo, bullying, pertencimento, identidade territorial, humor, relações escolares e políticas públicas voltadas à convivência e ao uso de tecnologias.

O professor William Bezerra, fundador do Clube de Cinema Ferris e coordenador da Sessão Especial Escola Pública, destacou o papel transformador da iniciativa dentro das escolas. Ele relembrou que o projeto nasceu em 2017, em Santa Rita, e desde então se tornou porta de entrada para que estudantes descubram sua vocação no audiovisual. “Os alunos produzem durante o ano inteiro e vêm apresentar no FestAruanda desde 2021. Começou com o meu projeto e, a partir daí, abrimos esse espaço para outras escolas da rede pública. Hoje temos uma multidão para assistir, e alguns dos estudantes já seguem carreira no cinema”, afirmou.

Entre os jovens cineastas que marcaram presença, Ronaldo Gabriel, estudante da 2ª série na Escola Técnica de Artes, celebrou a oportunidade de ver o documentário “Dos Primeiros aos Últimos” na tela grande e ainda ser premiado. “A sensação é inexplicável. Comecei no audiovisual há menos de dois anos e, em tão pouco tempo, já ver uma produção minha no cinema, com meu nome na tela, é uma felicidade imensa”, contou. O filme aborda a realidade do bairro do Varadouro, em João Pessoa, revelando aspectos sociais, afetivos e identitários da comunidade.

A estudante Brenna Mayná, também integrante da equipe do curta vencedor, reforçou o sentimento de realização coletiva. Para ela, o trabalho traduz não apenas técnica, mas compromisso com a realidade retratada. “Produzimos o filme durante todo o ano e ver tudo dando certo, com sala cheia, é gratificante demais. Mostramos o tamanho do esquecimento do bairro, o que deveria ser exemplo e virou invisibilidade. Hoje, ver isso exposto para tanta gente é emocionante”, explicou.

Outro destaque da sessão foi o curta “Horas Perdidas”, dirigido pelo estudante Vinícius Veloso, da 3ª série do curso de Produção Audiovisual, também da ETE de Artes. A obra reflete, sob o olhar de um aluno, a lei que proíbe o uso de celulares na escola, transitando entre drama e comédia. Para Vinícius, ver o filme exibido no FestAruanda foi uma experiência marcante, principalmente depois dos desafios enfrentados na pós-produção. “É uma honra estar aqui. Tivemos muitos problemas, quase não conseguimos inscrever o curta a tempo, mas com a juda de todos deu certo. Espero que o público entenda a mensagem de que o celular não é tudo na vida e que existe muito além dele”, disse.

Ao longo da manhã, estudantes, professores e familiares lotaram a sala de cinema, celebrando o resultado de meses de roteiros, gravações, revisões e debates em sala de aula. A diversidade temática e estética dos curtas reforçou a potência da Educação Audiovisual como prática pedagógica inovadora, que estimula o protagonismo estudantil, a leitura crítica de mundo, o trabalho em equipe e a expressão artística. Para o professor William Bezerra, formar uma geração que entende o cinema desde a escola significa abrir portas para novas carreiras e novos olhares sobre a sociedade.

A premiação que encerrou a sessão reconheceu o talento, a dedicação e o impacto social das produções apresentadas. O Troféu Mônica Botelho foi concedido ao curta da Escola Municipal Presidente João Pessoa, enquanto o Troféu Clube de Cinema Ferris ficou com a Escola Estadual de Arte, Tecnologia e Economia Criativa Poeta Juca Pontes, reafirmando a importância de valorizar iniciativas que nascem no chão da escola pública e revelam jovens realizadores prontos para ocupar espaços culturais, acadêmicos e profissionais.

Celebrando duas décadas de existência, o Fest Aruanda do Audiovisual Internacional da Paraíba se consolida como um dos principais festivais de cinema do país, reunindo anualmente produções de curta e longa-metragem no Cinépolis do Manaíra Shopping, em João Pessoa. Criado em 2005, o evento promove mostras competitivas e sessões especiais, como a Escola Pública, além de parcerias internacionais e ações formativas, fortalecendo a circulação e a valorização do audiovisual brasileiro.