Mulheres enfrentam preconceito para seguir nas carreiras

Educação Profissional

08.03.2018

Na semana em que se comemora o Dia Internacional da Mulher – a transcorrer nesta quinta-feira, dia 8 de março – a Secretaria de Estado de Educação (Seduc) destaca exemplos de servidoras que precisaram superar obstáculos, como o preconceito e o machismo, para exercer a função-fim da Secretaria, a de educar. É este o caso da professora de Física Júlia Martins, de 38 anos. Formada em cursos técnicos de Metalurgia e Automação Industrial e, posteriormente, licenciada em Física, Júlia lembra que, durante a graduação, em uma turma de 30 pessoas, apenas cinco eram mulheres. E, ao longo do curso, duas colegas ainda precisaram parar os estudos. “Foi bem triste quando duas amigas tiveram que parar um semestre para cuidar de assuntos pessoais. Sem o apoio que é preciso da família, a maioria das mulheres se afasta para cuidar dos filhos, ou da casa”, lamenta.


Júlia, que é especialista em Física Contemporânea e Educação de Jovens e Adultos, conta que sempre gostou de ciências e fenômenos da natureza, e sempre se perguntava como as coisas funcionavam. “Além de gostar de matemática e disciplinas afins, um dia, recebi um conselho de um professor da escola técnica, o fez com que eu passasse a ter a Física como a disciplina do meu coração”, relembra.


A partir daí, decidiu fazer a graduação, onde precisou enfrentar, principalmente, o machismo dos colegas. “Em qualquer lugar que uma mulher afete o ambiente masculino ocorrem práticas machistas. Mas a pior de todas que já aconteceram comigo é o que hoje se chama de ‘bropriating’ (um dos termos criados para sinalizar o machismo nas relações e que se refere ao fato de um homem se apropriar de ideia já expressa por uma mulher, levando os créditos por ela). Acho que toda mulher sente-se ofendida quando um homem leva o crédito por seus feitos”, ressalta.


Apesar das dificuldades, Júlia tornou-se professora e há seis anos atua na área. Hoje, percebe que há muito mais mulheres em áreas até bem pouco tempo atrás consideradas como exclusivamente masculinas. “Se for o seu sonho, ou vocação, é importante lutar e não desistir ou desanimar, pois sempre haverá obstáculos a superar. Uns vamos evitar, outros contornar e os demais deveremos enfrentar com todas as forças. Desejo a todas as meninas e mulheres que estudem muito, sem perder a paciência. Pois o resultado sempre será o melhor”, ensina.


A professora Dineusa Fontes também tem 38 anos e é graduada em Engenheira Mecânica e em Matemática. O gosto pelos números e o interesse em entender o funcionamento de objetos e máquinas levaram-na à Engenharia, onde, tradicionalmente, o número de alunos homens é muito maior do que o de mulheres. “No ano em que entrei na universidade, em 1998, fui a única entre 60 alunos. Vi o listão do vestibular da UFPA (Universidade Federal do Pará) deste ano e contei apenas cinco mulheres que passaram em Engenharia Mecânica nas 64 vagas do Enem (Exame Nacional do Ensino Médio). Ainda é um curso em que entram poucas mulheres sim”, acredita.


Ela diz que, durante a formação, não teve dificuldades por ser mulher, embora fosse a única em um ambiente dominado por homens. Segundo a professora, Engenharia Mecânica é um curso que exige empenho e dedicação de todos, pois as dificuldades estão relacionadas a conseguir aprovação nas disciplinas. “Já no mercado de trabalho, a principal dificuldade é a desconfiança, pois você tem que tem provar que é capaz de exercer sua profissão tão bem ou melhor do que um homem”, relata.


Hoje, Dineusa ajuda, como professora, outras mulheres a seguirem as vocações que desejam. Na Escola Técnica Estadual Magalhães Barata, onde dá aulas no curso técnico de Mecânica, ela percebe que há interesse por parte das meninas, mas também um certo medo e desconhecimento a respeito dessas áreas. “Aqui na escola temos poucas mulheres no curso técnico em Mecânica e isso se dá principalmente pelo desconhecimento que elas têm sobre o que podem fazer na área. Ao final do curso, a maioria decide entrar no nível superior em Engenharia Mecânica, pois percebe que é o que realmente querem seguir. Meu conselho é que se informem sobre a área de atuação e que se dediquem ao máximo durante a formação, pois o preconceito ainda é grande, mas a persistência, o trabalho e a dedicação podem mudar essa situação”, aconselha.


Mãe de três filhos, a professora Lourdes Fonseca, de 58 anos, também orienta as mulheres a seguirem os seus corações. Formada em Sistemas de Informação e especialista em Gerência de Projeto de Software e em Educação à Distância, ela foi uma das poucas alunas do seu curso no ensino superior, mas não desistiu. “Eu já havia cursado uma faculdade, com a qual não me identifiquei muito. Passaram-se 17 anos e, nesse período, me casei, tive filhos e só depois tive condições de voltar a estudar. Escolhi, então, Sistemas de Informação. Tenho onze anos de formada e nesse tempo fui monitora de infocentro e dava aulas de informática básica, depois, entrei na Seduc”, conta.


Ela acredita que está havendo uma mudança no cenário de determinadas carreiras, mas esse é um processo lento e gradual. “Eu sempre digo que temos que seguir aquilo com que temos afinidade. Mesmo que enfrentemos algumas dificuldades, é muito bom trabalhar naquilo que gostamos”, conclui.

Texto:Elck Oliveira (Ascom Seduc)
Fotos: Eliseu Dias (Ascom Seduc)