Projeto de mobilidade e orientação dá autonomia a estudantes com deficiência visual

Acre

01.07.2022

A orientação e a mobilidade: a primeira representa a capacidade de perceber o ambiente onde se está, e a segunda, a aptidão para se movimentar. Para as pessoas com deficiência visual, essas habilidades se expressam no aprendizado do uso dos sentidos e do controle dos movimentos corporais de maneira organizada, segura e eficaz.

A aquisição desses conhecimentos é o objetivo do Projeto de Mobilidade e Orientação, desenvolvido pelos professores Socorro Pontes e Jardson Balica, que trabalham no Centro de Apoio Pedagógico para Atendimento às Pessoas com Deficiência Visual do Acre (CAP/AC) da Secretaria de Educação, Cultura e Esportes (SEE).

O projeto foi criado em 2020, pouco antes do início da pandemia da covid-19, e atendeu uma turma de oito alunos de diversas escolas de Ensino Médio e Educação de Jovens e Adultos de Rio Branco.

Com o isolamento provocado pela pandemia, o desafio que já era grande ficou ainda maior, pois a equipe de docentes teve que desenvolver métodos de ensino para pessoas com deficiência visual via internet.

De acordo com a Socorro, o apoio da família foi primordial:  “Tivemos que buscar autonomia e recursos para que eles [usuários do CAP] não se sentissem isolados em casa. Nesses dois anos de projeto, fortalecemos o nosso grupo de apoio, envolvendo as famílias, para que nos ajudassem a desenvolver as atividades e fixar as técnicas que devem ser usadas dentro de casa e na rua”.

Em 2022, quando as atividades presenciais voltaram, a maioria dos que participaram do projeto já tinham concluído os estudos. Mesmo assim, os professores continuaram com as atividades, porque viram a necessidade de colocar em prática o que foi aprendido de maneira remota. “Queríamos saber se eles se lembravam das técnicas que ensinamos”, lembra Socorro.

Nesse momento, os educadores buscaram parcerias em estabelecimentos comerciais da cidade. O primeiro encontro dos professores com os estudantes foi em um chá da tarde na doceria Chez Mémé. Previamente foi feito um treinamento com os funcionários, em que as técnicas de atendimento a pessoas com deficiência visual foram ensinadas.

A professora relata que a primeira experiência foi um sucesso. Então, eles conseguiram um outro parceiro, que foi o Hotel Ibis. Lá os funcionários também receberam treinamento e o cardápio foi transcrito para o braille. A primeira experiência foi um café da manhã.

Aline Rodrigues, que tem baixa visão e estudava no Centro de Educação de Jovens e Adultos (Ceja), conta que participar do projeto ajudou bastante na conquista da sua independência e confiança. “Eu era muito tímida. Durante as refeições, nem na cozinha da minha casa, junto com meus familiares, eu conseguia comer, comia na sala. Hoje, eu saio para todos lugares”, relata.

Valdeir Rodrigues, marido de Aline, ressalta que, além de aprender as técnicas de mobilidade e orientação, ela também recebeu os benefícios da socialização, fazendo amizades com pessoas com as mesmas experiências de vida. “Ajudou bastante porque a aproximou de novos amigos, e isso a auxiliou a enfrentar suas dificuldades”, relata.

O encerramento do projeto foi realizado em um jantar também no Ibis. Mas, devido à onda de síndromes gripais que se disseminou no último mês, somente quatro dos oito participantes puderam comparecer.

Ana Cláudia Souza perdeu a visão ainda na adolescência, devido a um glaucoma. Hoje, aos 29 anos, ela concluiu os estudos na Escola Iracema Gomes Pereira. Apesar de já ser muito independente em casa, Ana Cláudia conta que participar do projeto a incentivou a sair para outros ambientes: “Eu me senti mais independente”.

Durante o jantar, o professor Jardson Balica contou como foi gratificante ver os estudantes em um momento de descontração com os amigos e familiares: “São alunos que precisam desse carinho. Nós passamos pela parte teórica, em que todos se envolveram, e chegamos a essa vivência”.

A segunda fase do Projeto de Orientação de Mobilidade já está em andamento. A equipe do CAP/AC já visitou mais de 30 unidades escolares em Rio Branco e identificou cerca de 20 estudantes que precisam desse atendimento. Os trabalhos começam no ambiente escolar e terminam fora dele.

A estudante Luana Silva, que nasceu com cegueira e cursa Licenciatura em Pedagogia na Universidade Federal do Acre, também participou dos encontros. Para Luana, projetos como esse abrem portas também a outros deficientes visuais, pois promovem a inclusão nos estabelecimentos com os cardápios em braille e o atendimento diferenciado dos funcionários. “Chegar em um lugar com um cardápio adaptado e funcionários capacitados é outra história”, comemora.

Por Dayana Soares
Foto: Mardilson Gomes