Profissão que transforma: professora da Educação de Jovens e Adultos estimula o gosto pela leitura e escrita

Sergipe

17.10.2019

“Ela me ajudou a não desistir. Voltei a estudar por causa dos seus conselhos”, disse o jovem Pablo Henrique Ramos Lopes, agradecendo a sua professora de língua portuguesa, Denise de Lourdes Alves de Albuquerque, responsável por transformar histórias da vida real com a ajuda das histórias contadas nos livros. É assim que a trajetória da educadora está atrelada aos estudantes da Educação de Jovens e Adultos (EJA), no Centro de Referência de Educação de Jovens e Adultos Professor Severino Uchôa, localizado na simbólica rua dos Estudantes, bairro Getúlio Vargas, em Aracaju.

Há 23 anos, Denise de Albuquerque se dedica à missão de educar. Perguntada por que ser professora, ela explica que não sabe; que simplesmente “foi acontecendo”. Esbarrando com a história de vida de centenas de pessoas que buscaram na Educação o aprimoramento do autoconhecimento, ela conquistou a confiança e ganhou a atenção de cada um em sala de aula. Falando a mesma linguagem, simplificando as metodologias de ensino, a partir de projetos literários, além dos empréstimos de livros de acervo próprio que fizeram com que estivessem mais próximos e ligados a um único propósito: o conhecimento.

O papel social da profissão que transforma vai muito além do componente curricular. Para Denise, trabalhar com literatura é despertar o ser artístico naqueles que se propõem a evoluir juntamente com a língua. “Eu acredito que a arte ainda pode instigar mudanças no ser humano. Como trabalho com língua portuguesa, procuro, por meio da leitura e da poesia, motivar os alunos sempre”, afirmou a professora militante pela valorização da Educação Pública.

Psicologia, serviço social e direito foram algumas profissões que Denise considerou seguir antes de se tornar professora ao cursar Letras. Mesmo optando por Letras, as outras profissões ainda estão fortemente ligadas mediante o estudo do comportamento e relações sociais. Com essa ligação, considera-se que a profissão que transforma reverbera nas ações diárias dos docentes que cumprem o desafio de ser mais que professores.

Exemplo claro de perseverança, o estudante Pablo Henrique Lopes, de 19 anos de idade, matriculado no 7º ano – II etapa da EJA, é um dos personagens que ouviu os conselhos da professora que nas horas vagas é psicóloga, assistente social e advogada. Nas suas mãos, o livro Quando o meu pai perdeu o emprego, empestado por Denise, narrava a realidade em que o jovem estava inserido. Com o desemprego atingido sua família, Pablo precisou se afastar dos estudos e se dedica a ajudar financeiramente nas despesas de casa. Mesmo com as dificuldades, ele decidiu voltar. “Denise sempre acreditou em mim. Mesmo não estudando sempre, vinha aqui à escola e era nesses momentos que ela me aconselhava. Devo muito a ela”, frisou.

A estudante Maria Jisilene Alves, aluna 1º ano do Ensino Médio – I etapa da EJA, que também teve a vida transformada pela Educação Pública, relata como a professora Denise a ajudou. Mãe e dona de casa, ela afirma que os ensinamentos transmitidos em sala de aula foram cruciais para a educação dos seus quatro filhos. “Tudo que aprendi com ela fui passando para os meus filhos, e assim, foi ajudando no desenvolvimento deles”, declarou Jisinele, que pretende cursar faculdade de Serviço Social quando concluir o Ensino Médio.

Resultados

A Educação de Jovens e Adultos é feita pelas mãos de quem entende a situação social na qual essas pessoas estão inclusas, aqueles que interromperam os estudos ou não tiveram acesso às modalidades regulares de ensino na idade apropriada.  A rotina incansável para quem trabalha durante o dia e estuda durante a noite, por exemplo, é um dos fatores para a falta de interesse ou o não aproveitamento escolar.

Apesar dos contratempos, os resultados são positivos e a gratidão prevalece. Como conta a professora Denise que, há duas semanas, foi procurada por um aluno para agradecer as dicas de redação aplicadas em um exame para admissão em determinada empresa. “Isso para mim foi motivo de alegria. Ainda mais sendo um texto que foi avaliado, não por mim, mas por uma pessoa que estava ali para dizer se ele estaria apto a exercer aquela vaga de emprego. Essa notícia foi como ganhar um presente de natal antecipado”, relembrou.

Coordenadora pedagógica no Severino Uchôa, a professora Margarete da Silva Santos explica que as atividades desenvolvidas pela professora Denise Albuquerque, assim como pelos outros docentes, têm ajudado no desempenho escolar dos estudantes da EJA. Ela afirma que a proposta pedagógica integra a interdisciplinaridade, estimulando as relações interpessoais entre alunos, professores e equipe diretiva ao longo do ano letivo.

As possibilidades que a profissão que transforma tem proporcionado aos milhares de estudantes da rede estadual de ensino fazem girar a roda do conhecimento e, consequentemente, proporcionam a melhoria dos índices educacionais. Não somente na Educação de Jovens e Adultos, mas também em todas as modalidades, áreas de conhecimentos, seja na ciência, seja no esporte, ela mostra que os percalços são apenas etapas que poderão ser vencidas, perseverando e acreditando em si mesmo.

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