Seduc PA inscreve comunidades ribeirinhas para o Encceja

Oportunidade

16.08.2017

O coletor e vendedor de açaí Edinei Raposo Trindade, 33 anos, casado e pai de dois filhos, acordou muito cedo neste sábado (12) para garantir a inscrição nas provas do Exame Nacional para Certificação de Competências da Educação do Ensino Fundamental e Médio (Encceja), feitas no prédio de uma antiga escola municipal perto do Furo São Benedito, na Ilha do Maracujá, município do Acará. ”Parei de estudar em 2004, no 7º ano do Ensino Fundamental, porque só queria saber de festa. Agora, quero um futuro melhor para a minha família e para mim. Mas se não tiver estudo, não adianta”, ponderou.

Para garantir a inscrição dos habitantes da Ilha do Maracujá e imediações, a Secretaria de Estado de Educação (Seduc) fez um trabalho de conscientização das famílias no último dia 8 e, neste sábado, coordenou junto à comunidade o processo on-line para os candidatos. “A nossa intenção é facilitar a inscrição dos cidadãos para que possam concluir seus estudos por meio do Encceja”, destacou Edgard Dantas, técnico da Coordenação da Educação de Jovens e Adultos (Ceeja/Seduc), que atuou na inscrição dos candidatos na Ilha.

A inscrição ao Encceja pode ser feita por meio do Portal Seduc (www.seduc.pa,gov.br) e no site do Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais Anísio Teixeira (www.portal.inep.gov.br). O Exame viabiliza, pela primeira vez, a certificação do Ensino Fundamental (para cidadãos a partir de 15 anos) e, no caso do Ensino Médio (a partir dos 18 anos), ou seja, para quem não conclui esses ciclos escolares nas cidades do País.

Na próxima terça-feira (15), técnicos da Ceeja/Seduc voltarão à comunidade da Ilha do Maracujá para fazer as inscrições de candidatos ao Encceja, no mesmo local de hoje. O processo de inscrição segue até 18 de agosto, e as provas do Exame serão aplicadas em 22 de outubro. A Seduc atua como certificadora de conclusão de conteúdos em sintonia com o MEC.

Caminho

Fazer as provas do Encceja apresenta-se como uma oportunidade e tanto para jovens e adultos da IIha do Maracujá e imediações. Na localidade funcionam escolas de Ensino Fundamental, e grande parte dos moradores, ao fim dessa etapa escolar, acaba seguindo para Belém para cursar o Ensino Médio. Ocorre que muitos nem terminam o Ensino Fundamental, porque não querem mais estudar ou constituíram famílias e partem em busca de emprego para provê-las.

Em geral, no Maracujá, os homens trabalham coletando açaí, como pescadores ou como barqueiros. As mulheres são, em grande parte, donas de casa. As novas gerações têm buscado cursar e concluir o Ensino Médio em Belém, utilizando-se do transporte escolar fluvial viabilizado pela Seduc.

Na inscrição de hoje, as mulheres compareceram expressivamente ao longo da manhã. Etiene do Socorro Silva Trindade, 36 anos, casada e mãe de quatro filhos, mora na Ilha do Coju, no Acará. “Eu terminei o Fundamental e fui para Belém para fazer o Ensino Médio, mas parei no 1º ano. Agora quero a certificação”, diz ela, que ficou sem estudar por 16 anos.

Leda Raposo Trindade, 29 anos, irmã de Edinei Trindade, quer a certificação do Ensino Fundamental para poder cursar o Ensino Médio no futuro. Ao lado dela, na inscrição ao  Encceja, estava Rafaela Costa do Nascimento, 20 anos, sem estudar há três anos. A jovem trabalha como cuidadora de barco (quem repara crianças e faz outros serviços em embarcações de transporte de passageiro). “É difícil trabalhar e estudar, mas a gente tem que fazer um esforço”, pontuou.

Para Alda Célia dos Anjos Pimentel, 44 anos, mãe de três filhos, inscrever-se no Encceja tem todo um significado. “Eu parei de estudar há 25 anos, mas como sou pastora e quero fazer o Bacharelado em Teologia, o Encceja é o caminho”, assinalou. Mãe de três filhos, Daniele Caroline Ferreira, 22 anos, quer ser enfermeira. “Eu parei no 9º ano do Ensino Fundamental, quando fui ter meu terceiro filho. Agora, quero retornar aos estudos para ter uma vida melhor”, afirmou.


Texto: Eduardo Rocha

Fotos: Rai Pontes