Tecnologia na escola: Inovação, sustentabilidade e representação feminina norteiam projetos científicos do Centro de Excelência Hamilton Alves Rocha

Sergipe

12.08.2019

Quando o assunto é pesquisa científica, os alunos do Centro de Excelência Professor Hamilton Alves Rocha, localizado no conjunto Eduardo Gomes, São Cristóvão, sabem muito bem do que estão falando. Orientados pelas professoras Patrícia Fernanda Andrade (Química) e Kátia Figueiroa Daltro (Biologia), eles desenvolvem projetos que priorizam a inovação e sustentabilidade através de processos científicos. Considerada uma das únicas unidades de ensino da região que trabalha, de forma contínua e independente, a iniciação científica, a escola já foi premiada em várias edições da Feira Estadual de Ciências, Tecnologia e Artes de Sergipe (Cienart).

Vestidos a caráter, com jalecos customizados, os jovens pesquisadores fazem do laboratório de ciências um espaço de transformação e mudanças de paradigmas. Ali, eles colocam em ação experimentos que de alguma maneira estão ligados ao contexto social em que vivem, enaltecendo, principalmente, a representatividade feminina na ciência, o uso das atribuições científicas a favor do meio ambiente, o protagonismo estudantil e o empreendedorismo.

Nessa perspectiva, já foram executados os seguintes projetos: Papel Semente: uma Alternativa de Embalagens Sustentáveis; Preparação e Caracterização de Membranas Biodegradáveis a partir da Semente da Jaca; Produção de Biogás a partir de Fontes Alternativas; Potencial e Aplicação do Biogás para a Conversão de Energia de Cozimento e Obtenção de Substrato Sustentável Natural.

Segundo a professora de Química, Patrícia Fernanda Andrade, todos esses projetos surgiram da prática em sala aula. “Pensamos numa forma de estimular a investigação científica nesses jovens. Percebi que seria necessário ver resultados além dos muros da escola e que esses experimentos poderiam ser um grande contribuinte para a elevação da autoestima deles. Todos são muito engajados. Cada um no seu campo de pesquisa consegue se destacar de forma surpreendente, resultados que nos emocionam e nos fazem acreditar ainda mais na escola pública”, celebra.

Voz e protagonismo

A Ciência do Hamilton Alves Rocha dá voz e liderança aos jovens protagonistas. É o caso do estudante Vítor Cardoso, aluno do 2° do Ensino Médio em Tempo Integral. Coordenador de pesquisa, ele auxilia os professores, organiza as equipes de trabalho, seleciona os jovens cientistas e, claro, coloca a mão na massa. Ele afirma que no projeto os alunos têm autonomia para criar.

“A professora nos permite isso. Nos deixa livres para pensar, sugerir e criar. Acredito que esse seja o motivo do sucesso da pesquisa. Isso está me ajudando de uma forma espetacular, porque uma coisa é você ver a teoria e outra coisa é estar ali na prática. Então o ensino médio nos possibilita essa experiência enriquecedora aqui na escola”, disse.

Para a gestora da unidade de ensino, professora Ana Lúcia Lopes Santos, é gratificante acompanhar o desempenho dos estudantes durante a elaboração dos projetos. “Eles ficam muito entusiasmados com tudo isso e consequentemente nos deixam felizes porque de alguma forma contaminam positivamente toda a escola. E nesse sentido, a gente já começa a acompanhar os resultados, como as participações na Cienart, que é um evento com uma visibilidade muito grande aqui no Estado”, comemora.

Membranas biodegradáveis a partir da semente da jaca

O interesse no desenvolvimento de filmes biodegradáveis surgiu devido à demanda por alimentos de alta qualidade e a preocupações ambientais sobre o descarte de materiais não renováveis de embalagem para alimentos. Diante deste cenário, o trabalho interdisciplinar foi desenvolvido por professores e alunos dos 1° e 2° anos do Ensino Médio e tem como proposta preparar filmes biodegradáveis a partir da semente de jaca pelo método de casting.

Nesse trabalho, Jonas Braz, Igor Souza e Erick Santos foram os alunos que explicaram os processos científicos utilizados na experiência. São três fases para se chegar ao resultado final: uma espécie de papel-filme que servirá para embalar alimentos.

Porta-voz da equipe, o estudante Jonas Braz afirma que pôde absorver muito conhecimento com a pesquisa. “É um campo muito interessante e consegui observar muita coisa importante que pode ser aplicada com essa experiência”.

Papel Semente

Com o aumento do consumo de diversos materiais, o descarte inadequado das embalagens dos produtos pode se tornar um grande problema para o meio ambiente. Nesse contexto, foi observada a quantidade de folhas utilizadas nas impressões de provas e documentos no espaço escolar, sendo que elas eram descartadas após o uso. Diante desse cenário, o projeto interdisciplinar foi desenvolvido por professores e alunos dos 3° anos do Ensino Médio e tem como proposta produzir embalagens sustentáveis, a partir da reciclagem do papel gerado no espaço escolar.

Os protagonistas Luís Felipe Gomes de Oliveira e Riclécio Nascimento apresentaram o passo a passo para germinação das sementes, que, para eles, é uma etapa importante na elaboração do projeto. “Os processos são muito simples, mas têm uma contribuição muito significativa para o meio ambiente”, disse Luís.

Substratos sustentáveis

Com o objetivo de diminuir o impacto douso dos agrotóxicos no solo, os jovens pesquisadores Vitor Cardoso Alves, Milena da Silva Cardoso, Amanda Santos Santana e Teóphilo Augusto Santos Góis tiveram a feliz ideia de transformar o lixo orgânico gerado no ambiente escolar em substratos naturais, tendo como objetivo desenvolver mecanismos de aceleração na germinação das sementes, a partir de substratos naturais.

O projeto consiste nas seguintes etapas: a) higienização das cascas de frutas e legumes; b) secagem; c) moagem e peneiração; d) análise e tratamento do solo; e) inserção de elementos básicos para correção do solo f) acompanhamento da germinação.

Teóphilo Augusto Santos Góis, aluno 2º ano, conta que muita coisa pode ser reaproveitada, como o bagaço da cana, casca de banana, casca de melancia e tantas outras que permitem a composição do adubo natural.

Meninas na Ciência

Bolsistas do programa de iniciação científica patrocinado pela Universidade Tiradentes (Unit), as estudantes Lavínia Ferreira de Barros, Luana Lopes Feitosa e Victória Gabryela Santos Santana estão bastante entrosadas com os projetos que elas desenvolvem.

Os resultados foram além do esperado. A pesquisa extração do óleo da moringa desencadeou outros dois projetos: Produção de Biodiesel a partir do Óleo de Moringa e Esponjas Verdes Absorventes para Remoção de Corantes e Metais.

A estudante Lavínia Ferreira afirma que a experiência com a pesquisa está sendo muito proveitosa. Para ela, as mulheres devem sim ocupar mais espaços como esses. “Nosso papel como bolsistas é justamente mudar esse tipo de paradigma, mostrar que as meninas têm vez e voz e podem fazer o que elas quiserem”.

Vitória Gabriela compartilha da mesma opinião. Ela conta que é gratificante trabalhar com mulheres inteligentes e engajadas com a ciência. “Apesar de ser um processo muito trabalhoso, esses projetos nos permitem muitas coisas boas, resultados satisfatórios”.

Cienart 2019

Após passar por adequações e ajustes, a pesquisa Potencial e Aplicação do Biogás para a Conversão de Energia de Cozimento será mais uma vez a aposta do Centro de Excelência Professor Hamilton Alves Rocha, para a edição 2019 da Cienart.

O projeto tem como objetivo compreender a produção biogás de fontes alternativas por meio de biodigestores anaeróbios para conversão de energia de cozimento, sendo conduzida pelos alunos Diogo Barreto Macedo, Lucas Gabriel Matos Santos, Danilo dos Santos e Danielle Rayane dos Santos Silva.

As etapas são desenvolvidas da seguinte forma: construção de um sistema de armazenamento do biogás; cálculo do rendimento do biogás produzido e levantamento de mecanismos de incentivo ao aproveitamento do biogás.

O estudante Lucas Gabriel disse que agora a equipe vai para ganhar. O jovem cientista, aluno do 2° ano, não esconde o orgulho de estar à frente, juntamente com seus colegas, de um projeto tão importante para a escola. “É gratificante porque se trata de um projeto que tem a contribuição de todos, ainda, uma proposta de extrema relevância para o uso sustentável de mecanismo de baixo custo em geração de energia de cozimento”, conclui.

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